Ligaram-me, no outro dia, mais uma vez de um número não identificado. Atendi com meu melhor "hallo!" - o pânico de ser de algum emprego e não estar a atender leva a melhor, de vez em quando, sobre a decisão de não voltar a atender quem não se identifique.
.Uma voz feminina do outro lado arranha-me o ouvido com umas frases em holandês, para ser interrompida pelo meu apologético e costumeiro "sorry, I don't speak dutch...". Alegrei-me, é uma entrevista! E, logo a seguir, "não é o maluco dos telefonemas anónimos!".
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Após um ligeiro engasganço recomeça a falar, num inglês sofrível, diz que é da KLM e que quer saber se eu quero aderir a qualquer coisa que me permite fazer compras, trá-lá-lá (assim que me perguntam se quero aderir a algo ligo o modo automático de recusa em ouvir, seguido da recusa em aceitar seja o que for).
.Enquanto vou, o mais educadamente possível, recusando o não-sei-quê que me querem impingir numa das piores performances de inglês que por cá já me foi dado ouvir, entram em acção o Tico e o Teco. O Tico pensa "Que inglês básico para uma holandesa!". O Teco, por seu lado, pensa "Deve estar a rogar pragas por o meu telemóvel lhe ter calhado!". Fez-se luz (o Tico e o Teco encontraram-se à esquina) e, conforme me despedia e carregava no botão vermelho para desligar, percebi. Devem andar a ligar-me há dias (semanas!), mas quando percebem que não sou holandesa - nem o "Hallo!" tem a pronúncia correcta, pelos vistos - preferem não se dar ao trabalho. Esta, coitada, devia estar distraída e não percebeu que ia ter de esforçar o seu inglês para comunicar comigo...
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Bem pensado, bem verificado (numa adaptação livre do popular "bem dito, bem feito") - nunca mais recebi chamadas cujo autor opta por não explicar quem é nem ao que vem. Nada de apaixonados platónicos, nada de SIS versão Nederland, nada de jeito, apenas telemarketing. Digam lá se não é triste?!?
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