sexta-feira, 22 de maio de 2009

Sobre a fé e a ignorância

Pegando no feriado de ontem e no filme Angels and Demons, do livro homónimo de Dan Brown (o filme, sendo um normal filme de acção e aventura pareceu-me muito mais bem conseguido do que O Código da Vinci), as questões religiosas ficaram-me na cabeça. Eu não sou religiosa, nem crente, de espécie nenhuma. Se, por um lado, ninguém fez questão de me educar na igreja, por outro, sempre nutri uma profunda desconfiança e um pouco de raiva pela igreja. Passo a explicar. A única católica praticante no meu agregado familiar alargado era a minha avó materna que costumava levar-me, em pequena, à missa. No final (penso eu) da missa o padre distribuía a hóstia. Eu, que sempre fui gulosa e dada à experimentação, queria por força maior provar o que toda a gente ia buscar - menos eu (e a minha avó, por solidariedade). E não me deixavam, explicavam-me, porque eu não era baptizada. Eu não gostei. E não me esqueci. Mais tarde, foi o fascínio pelos escuteiros - as tendas, as aventuras dos sobrinhos do Pato Donald, um monte de amigos novos... Novamente, não podes, não és baptizada. Aqui, mais crescidinha, deram-me a escolher. "Queres ser baptizada, na igreja, para poderes ir aos escuteiros?", perguntaram-me. Depois de várias explicações sobre o baptismo e a igreja a minha resposta foi rápida - não. Nada daquilo fazia sentido para mim, a menina mimada da família, que achava que não era justo ter de ser baptizada e ir à igreja aturar uma data de coisas que me pareciam altamente entediantes para pertencer a um grupo de crianças cujo interesse principal era a brincadeira e diversão. E ainda me lembrava da questão da hóstia. Conforme fui crescendo, a descrença na existência de um ser maior que olha por nós foi ficando cada vez mais firme por força das circunstâncias e as atidudes e opiniões do representantes da igreja cada vez me pareciam menos de acordo com o que eu achava que uma igreja deveria pregar. A soma de tudo isto resulta numa pessoa que não consegue acreditar num ser superior (por vezes com pena, pois sinto o alívio e conforto que muitas vezes advém dessa crença) e que nutre uma profunda desconfiança e, até, repulsa pela instituição igreja católica.
O Angels and Demons relembrou-me o fanatismo e a psicologia das massas que sinto na igreja. A falta de informação sobre o dia da Ascensão em pessoas educadas e criadas na igreja, com baptismo e aulas de catecismo despertou em mim a ideia de que a igreja prefere manter os seus na ignorância. E que alguém, ou alguma instituição, prefira manter os seus membros na ignorância é algo que me espanta, principalmente nos dias que correm. Quem prefere a ignorância ao esclarecimento tem medo do último porque tem algo a esconder. Eu não me esqueço que uma querida amiga, crente, católica, catecista, me disse certa vez que a história de David e Golias não era bíblica. E que outra, uma senhora já com muitas décadas de igreja nas costas, não acreditou quando lhe disse que o deus da igreja católica é o mesmo do judaísmo e do islamismo - só divergem na questão de quem foi o último profeta. Não sabia (nem ficou a acreditar, como se fosse algo em dúvida) que o antigo testamento corresponde ao livro sagrado dos judeus. Tudo isto fica na minha cabeça, dá-me que pensar, e cada vez me causa mais espanto. Espanta-me e choca-me que alguém diga pertencer a uma organização e não saiba quase nada sobre ela. Eu até compreendo que continuem a dizer-se católicos os que não seguem todas as directivas do Papa, como nas questões do aborto, do uso dos preservativos, da eutanásia ou outras - creio que esta escolha é o que separa um crente de um fanático - mas não percebo como se podem identificar com uma instituição e com uma doutrina sobre as quais têm um conhecimento que não vai além do superficial. O ritual da missa. O gosto pelo casamento religioso e pelo baptizado. Como é que a crença em deus, algo tão profundo, pode ser misturada, confundida, com estas superficialidades? É que dizermo-nos crentes em deus é muito diferente de nos dizermos católicos, budistas ou qualquer outra coisa. E, pela minha experiência, muita gente confunde as duas coisas.

1 comentário:

Alda Couto disse...

A ignorância crassa convém às altas esferas de qualquer organização. Deus não tem nada a ver com isso. Os homens, sim.