Adoro ver álbuns de fotografias. Tenho aproveitado o tempo livre para fazer álbuns de fotos que ainda não tinham saído do digital. Mas gosto especialmente de ver álbuns antigos. Ver pessoas que já não estão connosco, que nunca conhecemos, que não vemos há tempos ou que hoje estão tão diferentes. Tenho uma priminha que, em pequena, recusava-se a acreditar que aquele menino que via nas fotos, de cabelo cortado à rapazinho, era o pai... porque o pai era careca! Esses álbuns encerram uma certa magia nas páginas repletas de fotos antigas (nunca velhas), a sépia ou preto-e-branco verdadeiros, espectaculares, principalmente as das mulheres. Não sei como se arranjavam, mas estão sempre lindas, com o sorriso certo, viradas para o lado que mais as favorece... perfeitas. Serenas. Imaculadas. Gosto da calma que esses retratos me transmitem. Não sei bem porque me lembrei disto agora, mas quando regressar a Lisboa vou ver os meus. Ver a minha bisavó, sempre velhinha como a recordo, na negrura das suas roupas de viúva, a minha tia, querida, a assinar um livro de casamentos com o mais perfeito dos caracóis a cruzar-lhe a face, a minha avó com o seu chapéu das cerimónias, as tranças grossas da minha mãe, que se recusava a olhar para o fotógrafo, o primeiro encontro de duas irmãs do coração, um ano de diferença entre nós espelhado na menina de calças de fazenda e na bebé com vestido de baptismo, o meu avô quando ainda não pesava menos de 60 kgs e olhava o mundo do alto dos cento e setenta e dois centímetros que constam do seu BI mas que foram há tanto perdidos. Ao folhear álbuns antigos sinto uma pertença, um sentido de família, de tradição, legado de tantas pessoas que vieram antes de mim e que, de algum modo, me puseram aqui. Gosto desse sentimento.
Há 4 horas
6 comentários:
Imagino que te vejas numa linha de continuidade e como resultado do esforço e dedicação de quem te ajudou a crescer, o que porventura até contribuirá para os honrares com a tua actuação por cá. Deve ser bom. Não tenho essa presença. Em alternativa (não exclusiva), nos últimos anos, quando vejo essas (minhas) fotografias, constato (sinto) que todas essas pessoas já foram novas e corriam e saltavam e agora já nem por isso. E deve ser verdade que nós também deixaremos de saltar.
Efectivamente, deixaremos de saltar. Mas nisso o meu velhote é exemplo: já não salta, nem sequer ergue bem a cabeça pois o pescoço não resistiu à gravidade dos seus 89 anos, mas continua com força e, o mais importante, vontade.
Guardo religiosamente uma fotografia dos meus pais, tirada no primeiro fim de semana que passaram juntos. Estão os dois com ar de absoulta cumplicidade, girissimos, encantados, felizes. Em alturas que tinha algum problema, principalmente amoroso, foi naquela fotografia que fui buscar coragem. Foi a vontade de "também quero viver isto" que me fez erguer a cabeça. E atrás da foto o comentáro do meu pai: "Em ti descobri que para ser feliz, seremos sempre dois".
Eu também adoro albuns, mas não só de familia, albuns de namoro, de férias, de escola, etc. E não acho piada nenhuma em ver as fotos no monitor!!
Underground, essa foto vale por si, mas com esse comentário vale o dobro...
Odeio ter as fotos só no computador, mas foram-se acumulando por falta de tempo quando ainda vivia em Portugal - agora é a desforra, estou a pôr tudo em papel!
Já somos 2!
Também mando imprimir imensas, desde o digital.
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