... eu pudesse olhar para mim através dos olhos de outrém, o que via?
E não estou a falar da parte física, que para resolver essa dúvida quasi-existencial existem espelhos. Estou a falar do resto. Da personalidade - qualidades e defeitos. Da maneira de ser, de estar, de viver, de me comportar, etc., etc.. Como sou como filha? Como neta? Como amiga? E aqui, no blogue, como será que me vêem as pessoas que não me conhecem de mais lado nenhum? Sim, porque eu quando vou a outros blogs imagino as pessoas que os escrevem e a possibilidade de mais não serem do que um alter-ego da verdadeira pessoa é algo que não me faz a mínima diferença. Quando se escreve transmite-se mais do que a soma de todas as palavras tecladas. Existe significado nos temas, nas fotografias que mostramos, nas cores, fontes e imagens do próprio blog. Tudo isto transmite um pouco da pessoa por trás do blog - mas só um pouco, pois se há coisa na qual não creio é em lineridades. Não há pessoas lineares. Por isso não gosto das personalidades associadas aos signos, dos supostos significados das cores que escolhemos para a nossa roupa e azulejos de casa-de-banho ou dos nomes que escolheram para nós. Eu posso ser Goldfish, mas o meu animal de eleição é o cão.
"Como é que eu sou?" é uma daquelas questões que não colocamos aos que nos conhecem. Por vergonha (de pedir semelhante coisa), por pudor (sabe-se lá o que diriam) e por medo de quebrar regras do politicamente correcto que nos dizem que não devemos confrontar os outros ou obrigá-los a confrontar-nos a nós. Por tudo isto gostava de, um dia, e por uns instantes, ser outra pessoa, conhecer-me e ter noção do que sou eu vista por outros olhos. Às vezes não resisto a tentar sacar mais algumas informações quando alguém me diz que eu sou de tal maneira... Ai, sou? Então e porque é que dizes isso? A sério? Achas mesmo? É a minha maneira de perseguir o adágio "Conhece-te a ti próprio".
Tudo isto é muito engraçado. Padece, todavia, de um pequeno problema chamado subjectividade. Nem todos os olhos me vêem da mesma maneira. E nenhuns me vêem como eu me veria, caso pudesse ser eu mesma duas vezes e, frente a frente, olhar-me nos olhos. Ou seja, no final, caso fosse possível ser outra pessoa sem deixar de ser eu, caso chegasse a conhecer-me, não me veria como os outros me vêem, mas apenas como me vejo a mim própria. E isso de nada serve numa sociedade em que é o que os outros pensam de nós que verdadeiramente conta.