segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Monster batch

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Aparecem sempre na vida de quem tem cães as histórias dos outros. E tenho ouvido de mais a história do cão "que magoou o menino e que o menino fico com muito medo, coitadinho, e depois o cão foi para uma quinta viver feliz para sempre". Às vezes oiço dos meninos, mas também dos pais, e só me ocorre que estamos a criar uma catrefada de monstrinhos mimados que podem fazer tudo ao cão mas que, vade retro, o cão não pode arranhar. As pessoas não pensam no que é ter um cão, simplesmente acham piada a um (a uma raça, mais frequentemente) e vá de comprar. Sim, que isto de ter rafeiros não é para eles. Compra-se o cãozinho, tão fofinho, tão pequenino, e vá de levar para casa. Depois o cãozinho faz chichi e cocó (as necessidades fisiológicas parecem ser uma novidade para certo tipo de pessoas), não nasceu ensinado (ao contrário das suas criancinhas, anjinhos queridos, gostam tanto do cãozinho, olhem só como gostam de brincar - andar à bulha - os dois) tem de ser passeado (então lá podem perder a novela da noite?!?) e, surpresa das supresas, cresce e ganha força! Atenção que eu sei que há cães maus (apesar de acreditar que os educaram dessa forma) e que sentem ciúmes e atacam (conheço um caso gravíssimo, nem passa pela cabeça de ninguém) mas vejo nestes casos mais irresponsabilidade e facilitismo que outra coisa - o cão chateia, solução óbvia: desfazer-se dele! Podem até dá-lo efectivamente a outra pessoa, que até pode ser um melhor dono para o resto da vida, mas vão fazer o animal sofrer por uma decisão que é unicamente do humano. Pior, podem ir deixá-lo numa associação, onde sempre vai ter um tecto, alguns amigos humanos, comida e tratamento, mas raramente o que eles mais querem: uma família que seja deles. Pior ainda, podem levá-lo para o canil. Já ouvi um anormal dizer que no canil lhe asseguraram que o bicho, daquela raça, seria adoptado num instante. Nem se informou o suficiente para saber que a maioria dos animais que vão para o canil são abatidos e passam 8 dias miseráveis antes da morte. Ou, se calhar, prefere ignorar esse pequeno pormenor do objectivo maior que é livrar-se do pequeno-que-virou-grande-monstro. Ou, a maldade última (tive dúvidas sobre o que colocar em último, pois apesar de o canil ser a morte certa, esta tem possibilidade de um final feliz; no entanto, ao nível de quem o faz, creio que esta é a decisão mais irresponsável e maldosa): o abandono, ao deus-dará, longe de casa para garantir que o pobre não consegue tentar voltar para a casa que conhece, para os donos que ama da forma mais pura, mesmo que unilateral, completa, que é a de um cão. Estes meninos que vivem nestas famílias, um dia vão perceber qual foi "a quinta" para onde foi levado o seu cão. Será que não quererão saber? Será que por isso vão estar mais atentos? Desconfio que se passe o contrário, e que os animais continuem a ser adquiridos como mais um bibelô - até já ouvi falar de gente que quis devolver um par de gatos à loja porque tinha mudado a decoração da sala e eles já não combinavam. Se não é feito um esforço no sentido da sensibilização das pessoas, das crianças em particular, para as necessidades e sentimentos dos animais nada irá mudar. O que temos neste momento é uma fornada de gente mal-formada, que quer ter o cão e o filho mas não sabe que tem de educar os dois de forma a que acidentes sejam evitados, a criar uma nova fornada de meninos-que-serão-adultos à imagem do que foram os seus pais. Tenho pena dos animais mas, a um nível mais profundo, tenho ainda mais pena destes adultos e crianças.
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6 comentários:

Gi disse...

Tudo isso que dizes é verdade. E agora há outro problema: o das pessoas que ficam desempregadas e não podem suportar a despesa do seu animal.

Goldfish disse...

O desemprego afecta, claro, a disponibilidade financeira para tratar de um animal. Há, ainda assim, associações que dão ajudas e consultas a preço simbólico a quem a elas recorrer. Mas estes fenómenos estão, na minha experiência, mais ligadas à falta de compaixão e compreensão do animal do que a faltas financeiras.

Guilhim disse...

Fogo... agora fiquei com um nó no estômago... e cheia de vontade de estrafegar o Bogas e o Mix! Esses eu sei que se livraram de boa... mesmo!!

(sim... porque há muitos cães de raça que também não têm a vida facilitada ao início...)

Goldfish disse...

É terrível, Guilhim. E tens toda a razão, os de raça seguem o mesmo caminho que quaisquer outros, aliás, estes de que tenho ouvido falar são boxers, labradores, cockers...

Ana Maria disse...

Concordo 100% contigo Goldfish. Há raríssimos casos em que considero apropriado, atenção - dar o nosso cão a outra pessoa que o trate bem, mas até assim me custa entender. Não percebo que se abandone o cão na rua, numa associação, num canil municipal, o que seja. Até está na moda agora, imagine-se, ir com o cão ao vet para abater porque ele se tornou um incómodo. Tudo bem que as dificuldades económicas possam ser situações dificílimas mas acho mais aceitável que um cão coma menos ou rações menos boas do que seja dado por isso. Quanto aos veterinários há os da União Zoófilo que dão consultas muito baratas. Para mim abandonar um cão é como abandonar uma pessoa de família. É abominável. Mas há tanta gente abominável por aí.

Goldfish disse...

Ana Maria, nem um Cabrão de um Cão merece??? :) Estou a brincar... Temos um longo caminho a percorrer no capítulo do respeito pelos animais.