terça-feira, 3 de julho de 2012

A raiva já passou

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Sou professora de Inglês de crianças dos 3 aos 10 anos (bem, já os tive de 14, 15 ou 16, mas isso são outros quinhentos) - e, a julgar pelas reações de crianças, pais e restantes professores ao fim de cada ano de convivência comigo, além de ser uma profissão que me dá gozo, desempenho-a bem. Mas, apesar de já ser o 5º ano letivo em que dou aulas através da mesma empresa, continuo a recibos verdes e, loucura das loucuras, com o vencimento por hora a diminuir - assim como os enfermeiros, outra classe profissional que também não tem o respeito deste país ou de quem o governa (há alguma que o tenha?). Escolas públicas, colégios particulares, de Chelas a Alvalade, meninos que se tratam por você e crianças que passam noites acordadas à espera que o pai, bêbado, chegue a casa e acabe de espancar a mãe para elas a irem confortar, tratar e pôr na cama, já vi, já conheci, já ensinei, já beijei. Não há nada melhor que se possa fazer pelo Inglês enquanto disciplina não obrigatória e em turmas cujos alunos não têm um conhecimento nivelado do que fazê-los gostar, desinibi-los, encorajá-los. Não há nada pior que se possa fazer do que contratar pessoas que não são capazes de gostar das crianças, que não conseguem impôr alguma disciplina, que não se conseguem adaptar a cada turma e utilizar as estratégias que, naquele caso, melhor funcionam. Não há nada pior do que tratar os que têm jeito e os que não têm - não gosto da dicotomia "os bons e os maus" - da mesma maneira. Neste fim de ano sinto-me lixo: lixo acarinhado, lixo elogiado, lixo desejado, mas lixo na mesma. E já só me sobra o desconsolo.
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2 comentários:

Rachelet disse...

Girl, tens a minha maior vénia.
Professores e assistentes de call-center: kudos to you!

Goldfish disse...

Acredita, call centre é do pior, ensinar depende do grau e dos feitios!