Ontem revi o Hotel Ruanda. Há meses, desde que trouxe o DVD de Portugal, que me falta a coragem para o pôr no aparelho e carregar no play. Creio que a crueldade que grassa no mundo é sempre pior na realidade do que conseguem reproduzir na ficção, mesmo que a história relatada seja baseada em factos reais. O engenho do homem para o mal sempre foi grande. E enorme é também o seu talento para a indiferença, mais que não seja como mecanismo de protecção - como tão bem é aqui retratado. Ontem, e apesar de pressentir a enxaqueca que se instalaria a seguir, revi o Hotel Ruanda. Poderoso, esmagador, não acredito que alguém veja este filme e lhe seja indiferente. Penso que duas das falas deste filme fazem uma síntese aproximada, cruel de tão condensada.
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Nick Nolte, enquanto comandante das forças das NU: "We're here as peace keepers, not as peace makers".
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E, principalmente, a de Joaquín Phoenix, enquanto repórter de guerra, na altura em que todos os estrangeiros são evacuados, deixando para trás,e para uma morte quase certa, os ruandeses tutsis refugiados no Hotel. Conforme sai do Hotel, em direcção ao autocarro que o vai levar, um dos empregados ruandeses vem a correr cobri-lo com um chapéu-de-chuva que o proteja da chuvada torrencial que cai naquele momento, como era próprio de um Hotel da categoria do Mille Colines, e ele diz: "Please don't do that. Jesus Christ, I'm so ashamed!" A expressão, a postura, o contraste com a maneira de estar do colega que caminha ao seu lado... Poderoso.
2 comentários:
Nunca quis ver esse filme e é esta mesma atitude (multiplicada por milhões) que contribui para que esse tipo de acontecimentos ocorram. Estão longe...
Vale a pena ver, é muito bom, tocante e não só chocante e acaba bem - se é que alguma coisa fica bem depois daquilo, mas, enfim, dá uma esperança. Mas vê. Leva, no entanto, os Kleenex para o sofá.
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