Um casal e as suas filhas, teenagers, querem mudar de casa. O objectivo é simples: estarem mais perto das escolas que elas frequentam, em Lisboa. Comprar casa está fora de questão e mesmo alugar casa, em Lisboa, como toda a gente sabe, é caro. Mas o ordenado do pai é bom e a procura começa. O sonho é que a casa tenha dois quartos, um para o casal e outro para as filhas, que até agora sempre dormiram na sala. No final de muita procura há dois apartamentos em vista, curiosamente em prédios lado-a-lado. Um com um quarto, o outro com dois. A diferença de preços não é grande, mas o casal hesita. No apartamento maior estavam mais à-vontade, mas a diferença entre as duas rendas é equivalente ao espaço de manobra do orçamento familiar. Se optarem pelo apartamento maior não pode haver precalços. O dinheiro será à justa para as despesas correntes. Mas há sempre precalços. Optam, com pena, pelo apartamento mais pequeno, as miúdas continuam a dormir no sofá-cama da sala. Tem de ser.
Só para terem uma ideia, a diferença entre as duas rendas era o preço de uma bilha de gás. Em Lisboa, na altura, o gás era de bilha. Na altura, uma bilha de gás custava 50 escudos. Sim, 50 escudos. Era essa a margem de manobra, em caso de precalço, na casa dos meus avós quando a minha mãe era adolescente. A renda da casa que alugaram e onde ainda hoje o meu avô vive era 900 escudos. Um balúrdio, na altura. Não me digam que "hoje ainda estamos pior que antigamente"*. Não brinquem.
Só para terem uma ideia, a diferença entre as duas rendas era o preço de uma bilha de gás. Em Lisboa, na altura, o gás era de bilha. Na altura, uma bilha de gás custava 50 escudos. Sim, 50 escudos. Era essa a margem de manobra, em caso de precalço, na casa dos meus avós quando a minha mãe era adolescente. A renda da casa que alugaram e onde ainda hoje o meu avô vive era 900 escudos. Um balúrdio, na altura. Não me digam que "hoje ainda estamos pior que antigamente"*. Não brinquem.
* Porque ainda há dias ouvi esta frase a ser proferida. E, por estas e por outras, esta frase irrita-me solenemente.
11 comentários:
Os meus Pais pagaram 3 contos e 500 pela casa em Braga. O meu Pai ganhava 5 contos por mês e trabalhava em Lisboa pra onde ia todas as semanas. Levava bacalhau "pros mouros" pq lá não havia. Como o $ era pouco, o bacalhau era demolhado, pra pesar mais :D
Os meus Pais venderam papel de parede, pratos, quadros, tudo o que possas imaginar: porta-a-porta.
É por isso que eu fico pior que estragada qdo pessoas que sempre tiveram tudo se queixam continuamente. É por isso que me irrita quem insiste em ver pedras em caminhos lisos. É por isso que eu fico PODRE quando me vêm falar do tão mal que se vive em Portugal e depois vejo entrevistas como a que postei ontem e...rio pra não chorar. Só me apetece bater-lhes a todos. Quem diz que tá pior que antigamente é pq tem a barriga cheia ou memória muuuito curta!!
não estamos não senhora !!! pior não estamos
mas podiamos estar muito melhor :) ... repara que hoje o dilema , que relatas existe também...
mas definitivamente estamos bem melhor do que antes, nesse tempo além da miséria escondida ...nem podiamos falar !!!
bkj
teresa
A memória dos Homens é curta...
A vida não piorou, as pessoas passaram a exigir como normal o que antes eram luxos. Na idade dos nosso pais poucos eram os que casavam com casa comprada ou carro. Isto já para não falar de férias 2 vezes por ano!
Mudaram-se as vontades e as exigências apenas...
Os meus avós, tanto maternos como paternos ficaram orfãos muito novos, porque na altura morria muita gente de tuberculose. Muitas crianças foram criadas em orfanatos. Hoje seriam consideradas umas coitadinhas traumatizadas, naquela altura ninguem perdia tempo com o possivel trauma de uma criança. Toda a gente estava ocupada em sobreviver. O meu bisavô criou 3 filhos sozinho, depois da mulher ter morrido, com muito pouco com que se sustentar. Trabalhava num moinho, onde vivia com os filhos e teve de os ensinar a todos a nadar, atando uma corda à volta da cintura e atirando-os para a água. Sim é duro, mas não se podia dar ao luxo de viver rodeado de água por crianças que não soubessem nadar. Por isso quando ouço alguém falar em crise, porque não tem dinheiro para comprar mais uma televisão ou para sustentar o carro, dá-me vontade de rir. A crise só existe para quem passa fome e infelizmente, isso ainda existe.
O meu pai ganhava 9cts quando comprou um apartamento de 700Cts há 40 anos.
A minha mãe era doméstica porque assim decidiram, que era para eu ser criado como deve ser. O ordenado do meu pai chegava e sobrava.
Pagavam 2,8cts de renda de casa. Sobravam 6,2cts para o resto.
Hoje a maior parte dos casais tem que trabalhar os dois e mesmo assim não chega.
Os eng. portugueses teem que emigrar para a Holanda para deixarem de receber 800€ a recibos verdes. Com rendas de casa de 400€.
Realmente, estamos melhor, mas não estamos todos. Mesmo no tempo da outra senhora, havia quem comesse bem e quem passase fome. Hoje tambem.
Embora uma coisa é certa, quem eu mais vejo queixar-se, são os que tem a barriga cheia.
Eu nunca tive a barriga cheia e sempre me queixei, porque achava que tinha pouco para o que eu trabalhava.
E há muita miséria escondida em Portugal, eu conheci muita através do trabalho do meu pai.
Há gente que não estando como antigamente, não está bem.
O meu pai, depois de uma vida de trabalho desde os 11 anos, tem uma reforma de 320€. Isso dá para quê??
Os pedidos de ajuda ás Misericórdias aumentaram exponencialmente este ano.
O Bamco Alimentar já não consegue dar vazão aos pedidos.
Os abusos no local de trabalho são mais que muitos.
Cada vez há mais gente a recibos verdes.
Cada vez há mais gente a emigrar e a dizer que não volta para Portugal nem por nada.
Portugal está bom, sem dúvida, para os do costume.
Mas está melhor do que antigamente, sem dúvida.
Já agora, depois de ler isto, eu já sofri isto na pele, pergunto-me se as coisas estarão assim tão melhores.
http://fartosdestesrecibosverdes.blogspot.com/2009/12/testemunho-actividades-de.html
E segundo informações recolhidas, Portugal é o unico pais da Europa com RV.
Cumprimentos da terra das tulipas
Este post despertou muitas recordações…
A minha avó passou fome e viveu as dificuldades do racionamento durante (e após) a II Guerra Mundial. Independentemente das dificuldades dos dias de hoje, o país já não tem nada a ver com o que se passava há duas gerações. Algo que hoje se vê como muito distante.
O António Barreto é autor de um documentário (Portugal - Um Retrato Social) muito interessante, onde se retrata as principais mudanças da sociedade portuguesa nos últimos cinquenta anos.
Obrigada pelos vossos relatos... Realmente, há muita coisa mal no nosso rectângulo mas nada que se compare a antigamente. Ainda bem que não sou só eu que lembro isso, mais que não seja em memórias emprestadas pelos que me são próximos.
Quanto aos recibos verdes... eu sei, também já os vivi. São uma injustiça profunda, uma roubalheira aos trabalhadores e um "passe livre de impostos" aos empregadores desonestos, como o passe que nos livrava da prisão no Monopólio. Vou ver o link que me deixaste, Tia Maria, mas não preciso disso para saber o que se passa ou acreditar no que dizes.
Realmente não estamos pior, mas deveríamos estar bem melhor dado o acesso que temos ou poderemos ter a tudo.
Há quem esteja quase ao nível do antigamente.
"mas não preciso disso para saber o que se passa ou acreditar no que dizes".
Sim, eu sei, mas é sempre bom sabermos estas coisas.
É que a minha mãe, por exemplo, ficava sempre de pé atrás comigo quando eu lhe contava as minhas "aventuras" no emprego.
Achava sempre que eu é que tinha feito alguma coisa mal.
Depois comecei a dar-lhe a ler estes relatos. E ela lá viu a triste realidade do país.
A minha irmã, por exemplo, tem um mestrado em educação, não sei o nome exacto da coisa, e está a trabalhar num centro de Internet da câmara municipal em part-time.
E ela vira-se para mim e diz que não sente a crise.
E entre ela e o meu cunhado, o ordenado dos dois dá para pagar a renda de casa, comer e beber.
Tirando isso, eles não tem vida própria porque o €€€ não dá.
E isto não é crise???
Eu, com o que ganho aqui pelas holandas, fui de férias 3 vezes este ano, e fui 4 vezes a Portugal.
Se um gajo com o dinheiro que ganha, só come, bebe e paga a renda de casa, então isto é crise.
Cumprimentos da terra das tulipas
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