Já houve uma altura em que o casamento era só religioso. Quando se começou a falar de casamento civil, o que se dizia? Que o casamento civil não fazia sentido, que o casamento só fazia sentido enquanto cerimónia e compromisso religioso. Alguém hoje ainda pensa assim? Com certeza, dois ou três - há sempre alguém com uma opinião diferente, seja ela baseada em novas ideias ou em ideias com séculos ou décadas de existência. Há (muito, mas também não tanto assim) tempo atrás os negros não eram pessoas, humanos como os brancos, mas sim uma qualquer subespécie mais próxima do animal do que do humano que, por mero acaso, possuía a única grande característica (física) que nos distingue dos animais - a fala. Alguém ainda hoje pensa assim? Claro! Infelizmente, ainda há muitos, tal como disse atrás, há sempre quem pense de maneira diferente. Há alguns anos atrás (poucos, tão poucos...) em Portugal era dado adquirido que um bom ensaio de porrada (com um cinto, a régua, os punhos - originalidade era a palavra de ordem) era a melhor maneira de ensinar às crianças fosse o que fosse - até a respeitar quem tinha acabado de lhe deixar o corpo negro. O mundo muda. As opiniões (da sociedade enquanto um todo) mudam. Por isso, neste caso, também mudará. O casamento entre homossexuais será uma realidade dentro de pouco tempo. E continuarão a existir pessoas que dizem "casamento sim, que a vida de cada um não nos diz respeito, mas adopção de crianças não, que as pobres vão ser doutrinadas, gozadas, desviadas, etc., etc.". E o mundo continuará a girar. E, quando a sociedade decidir que afinal as crianças estão melhor com um casal homossexual do que numa instituição (por muito boa que seja, por muito dedicados que sejam os funcionários), também isso se alterará. E, aí, provavelmente, virão alguns dizer "adopção sim, que aquelas pobres crianças já nasceram e estão melhor assim do que noutras circunstâncias, mas agora inseminação artificial para homossexuais é que não, que uma coisa são as crianças que já cá andam, outra encomendarmos novas crianças nessas condições". E, novamente, o mundo girará. E o mundo não anda para trás.* Só tenho alguma pena que, entretanto, haja crianças que continuem a sofrer quando se calhar há alguém que queria dar-lhes amor.
* excepção feita a grandes cataclismos que provoquem alterações radicais nas condições em que vivemos e, consequentemente, na organização da sociedade
6 comentários:
Não há muito tempo as mulheres eram tratadas como seres inferiores e havia até estudos científicos que comprovavam as suas poucas aptidões cerebrais já que «estava provado» que o seu cérebro era diferente, no mau sentido evidentemente, e que a sexualidade era coisa exclusiva dos homens...
O mundo vai mudando, às vezes demasiado devagar, mas vai mudando...
Aqui temos outro belo exemplo...
Resumindo, e como diria o Sérgio Godinho, sempre foi assim mas há-de ser diferente. Felizmente.
excelente, excelente texto!!!
Espera-se que seja diferente rapidamente...
E obrigada!
Antes do 25 de Abril, as mulheres não podiam sair do país sem autorização dos maridos e o casamento católico não podia ser desfeito por tribunais civis.
O mundo gira e realmente em certas situação a legislação é que tem de acompanhar a realidade. No entanto, existe a necessidade de regulamentação para se viver em sociedade, apesar de por norma rejeitar a intervenção normativa e padronizada (leia-se estatal) na vida de cada um. A questão é sempre o nível da intervenção…
Em relação à adopção de crianças por casais homossexuais, a palavra essencial é mesmo a que referiste: amor. Conheço um homem (sozinho) de adoptou uma criança e são felizes. Neste caso, o que o impede de se juntar ou casar com quem quiser? Só para exemplificar as contradições onde se pode cair quando se começa a montar teias...
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